Dia de Iemanjá

Conforme perguntas de alguns filhos sobre o “dia de Iemanjá” resolvi escrever este texto.

Hoje é dia 02 de Fevereiro e ouço muitos comentários de que hoje é o dia de Iemanjá.

Respeitando a diversidade de ritos e entendimentos existentes nas religiões afro-brasileiras, vamos registrar alguns comentários conforme ensinamentos da doutrina dos sete reinos sagrados, seguida pelo Núcleo Mata Verde.

Muitos filhos, recém chegados, trazem sempre muitas dúvidas, muitas vezes sem fundamentos, sendo importante alguns esclarecimentos sobre a forma de cultuarmos os orixás no Núcleo Mata Verde.

Também trazem preconceitos e práticas, nem sempre bem fundamentadas, muitas vezes confusas e conflitantes com a doutrina do Núcleo Mata Verde.

Sempre é bom orientar os novos e alertar aos mais antigos.


Inicialmente é interessante falarmos um pouquinho sobre a origem de Iemanjá na áfrica, pois seu culto tem origem naquele continente.

Nos ensina Pierre Verger que o nome de Iemanjá deriva de Y èyé omo ejá (Mãe cujos filhos são peixes).

Iemanjá é um orixá dos Egbá, uma nação iorubá estabelecida antigamente na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yemoja.

Devido a guerra entre as nações iorubás, no início do século XIX, os Egbá emigraram na direção oeste, para Abeokutá.

Levaram consigo todos os objetos sagrados, suportes do axé da divindade, e o rio Ogùn, a partir de então, passou a ser a nova morada de Iemanjá.

O principal templo de Iemanjá fica localizado em Ibará, um bairro de Abeokutá.

Iemanjá seria filha de Olóòkun, deus (em Benim) ou deusa (em Ifé) do mar.

Em uma história de Ifá aparece casada com Orunmilá, senhor das adivinhações, depois com Olofin, rei de Ifé, com o qual teve dez filhos, cujos nomes parecem corresponder aos orixás.

Iemanjá tem diversos nomes, relativos, como no caso de Oxum, aos diferentes lugares profundos do rio.

Ela é representada nas imagens com o aspecto de uma matrona, de seios volumosos, símbolo de maternidade fecunda e nutritiva.

Iemanjá

Com a escravidão os africanos trouxeram para a América o culto aos orixás.

O culto a Iemanjá é muito popular no Brasil e em Cuba.

No culto de nação é comum dizer-se que existem sete Iemanjás (caminhos ou qualidades):

Iemowô, na África é a mulher de Oxalá

Iamasse, mãe de Xangô

Euá, rio que na África corre paralelo ao rio Ogùn

Olossá, lagoa africana onde deságuam os rios

Iemanjá Ogunté, casada com Ogum Alagnedé

Iemanjá Assabá, ela manca e setá sempre fiando algodão

Iemanjá Assessu, voluntariosa e respeitável

Em Cuba tembém existem sete nomes:

Yemaya Awoyó, a maior e mais velha de todas.

Yemaya Ogunte, mulher de Ogum

Yemaya Maylewo ou Maleleo, vive no mato, num lago ou numa fonte

Yemaya Asaba, é perigosa e voluntariosa, foi mulher de Orunmilá

Yemaya Konla ou Akura, vive na espuma da ressaca da maré

Yemaya Apara, vive na água doce, na confluência de dois rios

Yemaya Asesu, vive em água agitada e suja, mensageira de Olokum.

SINCRETISMO ENTRE SANTO E ORIXÁ

Durante o período da escravidão, das senzalas e da chibata, todos eram obrigados a se converterem ao cristianismo, pois era a religião oficial.

Aqueles que não eram cristãos, os chamados pagãos e hereges, eram duramente punidos e castigados, muitas vezes sendo convertidos a força.

Não encontrando alternativa para continuarem a cultuar suas divindades, os africanos escravizados, relacionaram cada divindade africana (orixás) com um Santo da Igreja Católica.

Desta forma se prostavam aos pés das imagens dos santos, aparentando estarem orando para os santos, mas na realidade estavam prestando homenagens, pedidos e agradecimentos as suas divindades, os Orixás.

Nascia assim o sincretismo entre Santo católico e Orixá e que durante muito tempo foi a única forma de continuarem a cultuar seus orixás e manterem suas tradições e religião.

Devido ao medo, o sincretismo se perpetuou durante centenas de anos chegando até nossos dias em grande parte dos cultos afro-brasileiros, inclusive na Umbanda.

Vale lembrar que o sincretismo é regional e é diferente em estados e outros países.

No caso de Iemanjá temos muitos sincretismos aqui mesmo no Brasil.

Nossa Senhora de Candeias, Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Piedade e a Virgem Maria, consequentemente as datas de comemoração mudam conforme o sincretismo adotado naquele estado, cidade ou país.
Pode ser comemorada dia 31 de Dezembro, 8 de Dezembro, 2 de Fevereiro, 12 de Outubro etc…

O dia 02 de Fevereiro, dia de Nossa Senhora dos Navegantes, é a data adotada em Salvador, pelo Candomblé e teve uma grande divulgação graças aos artistas e intelectuais baianos, ou não, que cultuavam o Candomblé.

Podemos citar como exemplo É Doce Morrer no Mar (1943) e Quem vem pra Beira do Mar (1954) de Dorival Caymmi.

Em Bahia de Todos-os-Santos, Jorge Amado nos revela mais da natureza dessa relação de Caymmi com Iemanjá.

No Afrosambas (1966), trabalho de Baden Powell e Vinícius de Moraes com regência e arranjo de César Guerra-Peixe, um dos mais representativos da discografia brasileira, que foi um divisor de águas, aparece, em Canto de Iemanjá, uma das diversas faixas que fazem alusões a divindades do candomblé.

No mesmo ano, é figura central em Beiramar opus 21b, do compositor Marlos Nobre, ciclo composto por três canções populares, duas delas ligadas diretamente a Iemanjá: Estrela do Mar e Iemanjá Ôtô.

Na voz de Ely Camargo, considerada uma das mais agradáveis e bem timbradas a serviço da música popular brasileira, foi reverenciada em Yemanjá (Paulo Ruschell) no disco Canções da minha terra – Volume 4 (1964), e em Mamãe Iemanjá (Guerra-Peixe) no disco Outras Canções de Minha Terra (1967).

Na voz de Clara Nunes, foi romantizada em Conto de Areia (1974), música de Romildo Bastos e Toninho Nascimento, uma entre tantas outras do cancioneiro popular brasileiro que reverenciam Iemanjá.

Na telenovela brasileira Porto dos Milagres (2001), é tema de abertura na canção Caminhos do Mar, interpretada por Gal Costa.

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia etc…

É interessante registrar que Iemanjá é o único orixá que possui uma imagem na Umbanda, que deve ser preservada e mantida pelos seus praticantes.

Feito este breve comentário sobre a origem de Iemanjá, e sobre a origem do sincretismo religioso entre os Santos e os Orixás, é importante comentarmos sobre como trabalhamos aqui no Núcleo Mata Verde.

DOUTRINA DOS SETE REINOS SAGRADOS

Seguimos uma doutrina chamada de Umbanda os Sete Reinos Sagrados, que tem como base a formação do planeta Terra, estudado em sete fases, conforme seu processo evolutivo.

Cada uma das etapas da formação do planeta, representa um dos sete reinos sagrados.

Caso ainda não conheça a doutrina pesquise aqui no Blog, que encontrará muitos textos sobre o assunto.

Também indicamos o curso EAD da doutrina dos sete reinos sagrados, disponível no site http://www.ead.mataverde.org


Iemanjá é como denominamos o orixá primordial responsável pelo quarto reino, o reino das águas.

Orixá primordial é uma manifestação divina, não tem uma forma física, não é um ser, e sim uma força espiritual mensageira de Deus, responsável por todos os líquidos existentes no Universo.

Se fossemos falar em espírito, poderíamos dizer que é um espírito puro, sem forma física, pura luz espiritual.

A força espiritual (axé) de Iemanjá vibra em todo o universo e em todos os líquidos, no mar, nas águas doces e salgadas, na chuva, nas nuvens, na seiva das plantas, no suor, no sangue e em todos os líquidos corporais existentes.

Também é responsável pela vida, pela beleza, suavidade, sensualidade, pela gestação, pelo aparelho reprodutor feminino e principalmente por todas as mulheres e mães do universo.

O quarto reino sagrado regido por Iemanjá, é o reino da vida, pois é na água que surgiu no planeta a vida, também é o reino de todas as Iabás, é o reino de todas as manifestações espirituais femininas, Santas, Caboclas, Pretas Velhas, Baianas, Pombas Giras etc… O reino da água é o reino do amor e da vida. É o reino de todas as mães.

Portanto Iemanjá vibra em nossa vida vinte e quatro horas por dia.

Também temos sete caminhos de Iemanjá. O quarto reino (água – Iemanjá) pode atuar no primeiro reino (fogo – Ogum), no segundo reino (terra – Xangô), no terceiro reino (ar – Iansã), no quinto reino (matas – Oxossi), no sexto reino (humanidade – Oxalá) e no último reino (almas – Omulu).

A força do Orixá está naquele copo de água que bebemos, pois ninguém vive sem água.
Lembramos que setenta e cinco por cento do corpo humano é água, é o axé de Iemanjá presente.

Não existe um dia de Iemanjá, todos os dias são dias de Iemanjá.

Nenhuma Santa católica é Iemanjá, mas podemos dizer que todas estão sob sua vibração.

Finalizando queremos alertar aos novos filhos (e aos antigos também), que estudem os conceitos da doutrina dos Sete Reinos Sagrados e que sintam e vibrem na força de Iemanjá simplesmente, independente de sincretismos ou de atividades culturais.

No Núcleo não seguimos o sincretismo dos santos e orixás, portanto não temos um dia de determinado orixá, mas durante o ano fazemos as imantações e/ou rituais de iniciações onde louvamos, oferendamos, cantamos e imantamos a força dos orixás em nossa vida.

Concluímos, respeitando todas as opiniões diferentes, e alertamos aos filhos do Núcleo Mata Verde que dia dois de fevereiro é o dia de Nossa Senhora dos Navegantes onde alguns adeptos do Culto de Nação, Culto Omoloco e de alguns Terreiros de Umbanda traçada, festejam através de eventos religiosos, culturais e de algumas manifestações políticas a grande mãe Iemanjá.

São Vicente, 02/02/2020

Manoel Lopes

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